segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Minha escola do campo: um depoimento muito especial

Tratos humanos para aprender-nos humanos


Um depoimento muito especial. Li com especial interesse estes textos sobre "escolas multisseriadas" no campo, por um motivo que me toca. No dia em que cumpri seis anos, minha mãe me fez uma roupa especial e me levou da à escola do meu povoado, a mesma escola onde ela, meu pai, meus avós tinham estudado. Ninguém me disse ser uma escola"multisseriada". Minha experiência escolar naquele campo foi de seis a dez anos com a turma dos "menores", da infância, e de dez a 14 anos com a turma dos "maiores", da adolescência.

Quando cheguei criança, convivi na mesma sala com os pares da infância, reconhecidos e respeitados nas nossas vivências da infância. Quando cresci, cheguei à adolescência, convivi, aprendi como adolescente com colegas adolescentes. Os mestres sabiam ser educadores de cada tempo humano, aprenderam a respeitar-nos em cada tempo.

Hoje entendo que a escola do campo em que vivi me respeitou na infância como criança e na adolescência como adolescente. Guardo um profundo reconhecimento de professores que me ensinaram a grande lição, a respeitar-me e respeitar os outros porque fui respeitado nos meus tempos humanos, nas minhas vivências, nos saberes e nas identidades do campo. Essa escola é possível.

(Texto de Miguel Arroyo, transcrito do livro "Escola de Direito: reinventando a escola multisseriada" p. 14)